Lançamento
Realidade e ficção se misturam no novo livro de Luiz Carlos Freitas
Confissões de um cadáver adiado tem como fio condutor o diagnóstico e tratamento do câncer, que o autor enfrentou há dez anos
Foto: Divulgação - DP - No novo livro escritor relembra temas sensíveis da sua história
Mesmo que com toques ficcionais, desnudar-se em uma biografia é tarefa para poucos corajosos. O jornalista e escritor Luiz Carlos Freitas se lançou a esse espinhoso, mas também redentor, trabalho e o apresenta ao público na obra Confissões de um cadáver adiado (Editora Bestiário). Livro que lança nesta quinta-feira (30), com sessão de autógrafos, a partir das 18h, na Livraria Mundial, no calçadão da 15 de Novembro, 564, com vendas no local. Após o evento a publicação estará disponível no site da editora.
O romance Confissões de um cadáver adiado é uma obra de autoficção que tem como fio condutor o diagnóstico e tratamento do câncer, que o autor teve de enfrentar há pouco mais de dez anos. No livro o autor faz um relato sobre a própria vida misturando realidade e ficção. “Parto do princípio de que toda a ficção é autobiográfica e toda a biografia é ficcional porque quem escreve, relata sobre o que viveu ou conheceu”, comenta o autor sobre seu 11º livro.
Escrever sobre sua própria trajetória não foi exatamente planejado, foi algo que se impôs, descreve o autor. “Eu não decidi escrevê-lo, ele (o livro) decidiu vir à tona, durante dez anos ele se maturou no meu íntimo”, diz.
O despertar desse desejo brotou logo depois que Freitas voltou de Portugal, em maio do ano passado, especialmente depois de uma visita à terra dos avós paternos, no norte daquele país, próximo de Braga. Um ano depois do retorno o livro estava pronto.
Para evitar algum constrangimento, o autor ocultou o próprio nome e das pessoas envolvidas. “Mas é um romance, uma autoficção, no meu caso eu sou o autor, narrador e personagem.”
Na obra, Freitas é substituído por Lucas Portugal, seu alter ego. Toda a história se passa em Pelotas, onde o escritor resgata memórias familiares desde a infância, como um acerto de contas com o seu passado. “Além de exorcizar meus fantasmas, porque remexer no passado e escrever uma história catártica, é remexer nos seus medos e paranóia”, fala.
Nos passos do pai
Filho mais velho de uma família de quatro irmãos, Freitas perdeu o pai muito cedo, justamente vítima de um câncer no estômago e metástase no fígado aos 43 anos, em 1973. Apesar do susto quando teve o primeiro diagnóstico de carcinoma, o escritor lembra que de alguma forma sempre teve certeza que teria a mesma doença que vitimou seu pai. “Ficou na minha cabeça que eu seria o ‘premiado’.”
O primeiro diagnóstico de câncer no estômago chegou em maio de 2011, quando o autor tinha 55 anos. Depois da cirurgia, em junho, sentindo-se recuperado, retomou o trabalho. Porém, em novembro, outros exames apontaram a volta da doença no que restava do estômago, além de metástases no baço e pâncreas e necrose no fígado.
Em 1º de janeiro de 2012 o jornalista se submeteu a outra cirurgia. Esta ainda mais invasiva, porém ele estava se recuperando bem, quando pegou uma infecção hospitalar muito grave que o deixou em coma por cerca de duas semanas, até que ele acordou e começou a jornada de recuperação.
Diferentemente do que alguns possam pensar, Freitas discorda quando alguém lhe fala que o título da obra é um pouco mórbido. E ele explica que a inspiração veio de um poema de Fernando Pessoa, que ele leu durante uma visita à famosa livraria Lello, na cidade do Porto, em Portugal.
“Nesse poema tinha uma frase, que dizia: ‘somos todos nós cadáveres adiados’. O que não deixa de ser verdade, porque todos nós vamos morrer um dia. Não tem nada de tétrico ou de mórbido. Não é que eu faça troça da morte, mas eu perdi o medo dela. Eu faço uma certa ironia, trato o tema da morte com leveza e com um pouco de sarcasmo.”
Compartilhar esperança
Freitas revela que conta essa história toda motivado por uma espécie de acerto de contas com ele mesmo e com o próprio passado. “O segundo motivo foi a necessidade de exorcizar fantasmas, traumas e angústias e o terceiro e mais importante foi deixar um testemunho que há vida após o câncer, mesmo os mais letais como o meu. Acho que é um alento para quem enfrenta a enfermidade, quero compartilhar fé e esperança com as pessoas.”
Entretanto o autor esclarece que o livro não é um manual de superação do câncer, longe disso. “Objetivo desta obra é mostrar que o diagnóstico de câncer não é sinônimo de finitude, tampouco quero dizer ao outro o que fazer, quero compartilhar esperança, plantar experiência, mostrar a ambiguidade, a imperfeição e às vezes até a mesquinhez do ser humano”, argumenta.
Serviço
O quê: Luiz Carlos Freitas lança Confissões de um cadáver adiado
Quando: quinta-feira (30), às 18h
Onde: livraria Mundial, na rua 15 de Novembro, 564
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário